sexta-feira, 30 de abril de 2010

TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES



Está baseada no princípio da multiplicação, de forma acelerada, da progênie (descendentes), de fêmeas (doadoras) consideradas superiores, dentro de cada criatório.

Atualmente é a técnica mais acessível e de melhor aproveitamento de uma doadora, multiplicando seu material genético.

Para tal, as doadoras serão submetidas a tratamentos com hormônios, que atuarão sobre os ovários causando múltiplas ovulações (superovulação). Esses óvulos se fertilizados após as inseminacaoções, serão coletados e avaliados uma semana após.

Os embriões considerados viáveis, poderão ser transferidos para outras fêmeas chamadas receptoras (transferência a fresco) ou congelados para posterior aproveitamento (serem descongelados e transferidos em outra oportunidade).

Embriões viáveis poderão ainda ser bipartidos e transferidos a fresco.

A transferência (inovulação) a fresco ou pós-descongelamento consiste na deposição do embrião no útero de receptoras previamente selecionadas.

Em uma mesma doadora podem ser feitas várias coletas durante um ano, o que permite que uma doadora produza muitos bezerros por ano, sendo que, em condições normais, produziria apenas um.

Atualmente, este trabalho pode ser incrementado, através da aspiração folicular, Fecundação InVitro (FIV) e posteriormente a transferência destes embriões em receptoras, podendo ainda ser utilizada em animais que não respondem aos tratamentos na T.E..

Além da Transferência de Embriões e da maturação e fertilização In Vitro, a produção de animais Transgênicos também fará parte de nossa realidade, em curto espaço de tempo.
MELHORAMENTO GENÉTICO ANIMAL NO BRASIL:
FUNDAMENTOS, HISTÓRIA E IMPORTÂNCIA




14
O MELHORAMENTO GENÉTICO DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS NO BRASIL

14.1. Melhoramento genético em bovinos de corte, início do melhoramento animal no Brasil

Ao final da primeira década deste século, consolida-se a preocupação do meio científico para com o melhoramento genético animal. Neste período, o país experimentou grande esforço governamental representado pela fundação de diversas estações experimentais, cuja finalidade básica era a seleção genética. Assim, é que em Nova Odessa, SP, foi instalado um posto pecuário com o objetivo de selecionar tanto o gado Mocho Nacional quanto o Caracu.

Vale ressaltar que com o surgimento desta consciência, o peso final, pela importância econômica crescente que vinha apresentando, destacou-se como meta a ser perseguida. Portanto, este constitui-se como elemento fundamental de seleção. Deu-se, assim, início àquela que pode ser denominada era do desenvolvimento ponderal. A este tempo, possivelmente em razão dos resultados observados nos produtos oriundos dos cruzamentos entre o gado existente no Brasil e o gado zebuíno de importação recente, cresce a demanda por informações de cruzamentos deste gado com raças européias.

Assim, a necessidade de participação do cruzamento no processo de melhoramento genético fez com que o governo do Estado de São Paulo, em 1915, estabelecesse a criação de gado exótico em algumas estações experimentais. Esse trabalho teria, além da função de selecionar aquelas raças mais adaptadas ao meio brasileiro, a de avaliar seus cruzamentos com o gado Nacional. Neste período, segundo Caielli (1991), em Nova Odessa, além da seleção do Caracu e Mocho Nacional, iniciou-se a criação de "Polled Angus", "Hereford" e "Schwytz". Criava-se, ainda, na fazenda Amparo, localizada no Estado de São Paulo, o gado "Red Poll".

14.2. Consolidação do trabalho e resultados experimentais

A década de 1940 caracterizou-se pelo trabalho dedicado que tinha, como objetivo primordial, o desenvolvimento de uma raça nacional que aliasse à rusticidade e adaptabilidade do zebu, o maior potencial de produção do gado europeu. Assim, é que se constituíram as raças Canchim e Ibagé, que foram seguidas nas décadas subseqüentes pelas raças Pitangueiras, Lavínia, Santa Gabriela e outras. Neste período floresceram os trabalhos voltados à caracterização biológica no tocante a características reprodutivas e desempenho ponderal tanto quanto os estudos comparativos. A fase seguinte caracterizou-se pelos estudos relacionados com a determinação de parâmetros genéticos que foram seguidos de trabalhos mais intensos de cruzamentos.

A partir de 1949, iniciaram-se os trabalhos integrados em bovinos de corte com maior participação do produtor. Sob a coordenação de Fidelis A. Neto e Afonso G. A. Tundisi, tiveram início os concursos de boi gordo. Tais eventos tinham como objetivo precípuo orientar os criadores e invernistas na seleção e criação de animais capazes de produzir carne o mais precocemente possível (Martins, 1991).

No início dos anos de 1950, consolidou-se a Estação Experimental de São José do Rio Preto, SP, iniciando-se o trabalho de seleção do gado nelore. Neste período, em Ribeirão Preto, SP, foi criada uma estação experimental voltada para seleção e criação do gado gir. A seleção do gir tem, no entanto, na estação de Umbuzeiro na Paraíba, PB, seu primeiro centro de seleção. Segundo Domingues (1966), a seleção deste gado se iniciou, nesta estação experimental, na década de 1930. Ainda no final desta década, foi criada em Uberaba, MG, a Fazenda Experimental de Criação. Assim, segundo o autor, essas duas estações são as pioneiras no estudo e melhoramento do gado zebu no Brasil.

Em 1951, iniciaram-se, sob a coordenação de João B. Villares, as provas de ganho de peso com o objetivo de identificar animais geneticamente superiores para desenvolvimento ponderal.

Testes de progênie de touros zebuínos também foram iniciados nesta década, e alguns resultados destes foram discutidos por Carneiro & Memória (1959). Nesta mesma época, a integração universidade-produtor possibilitou o desenvolvimento de estudos de avaliação e caracterização das diversas raças bem como o estudo dos efeitos fixos com a finalidade de estabelecimento de possíveis fatores de correção, como atestam os resultados do trabalho de Mattoso (1959). Este autor, utilizando informações coletadas de 1949 a 1956, estudou o desenvolvimento ponderal de animais das raças Indubrasil, Gir, Nelore e Guzerá pertencentes à Fazenda Experimental de Criação de Uberaba e concluiu que ano, período do ano e sexo eram fontes que influenciavam os pesos do nascimento aos 30 meses de idade independentemente da raça, sendo que os machos eram sempre mais pesados que as fêmeas.

Outra observação importante feita pelo autor diz respeito às relações existentes entre os pesos em diferentes idades. Uma das conclusões do trabalho sugere que as provas de ganho de peso podem ser conduzidas com animais jovens, uma vez que os pesos às diversas idades são correlacionados. Ainda como conclusão deste trabalho observou-se que raça foi um importante fator de variação de peso em todas as idades estudadas. A Gir foi a mais leve das quatro raças. A Nelore apesar de mais pesada que a Gir foi mais leve que Indubrasil e Guzerá. As raças Indubrasil e Guzerá não foram diferentes entre si (Tabela 1).

Outros autores como Jordão & Assis (1939); Jordão & Veiga (1939); Jordão & Santiago (1940); Abreu (1949); Chieffi et al. (1950); Fontes (1950); Veiga et al. (1955), citado por Mattoso (1959), também verificaram a importância desses efeitos, ambiente e sexo, sobre o desempenho de animais de diferentes raças zebuínas de corte. No gado leiteiro, podem-se citar os trabalhos de Peixoto (1965), citado por Domingues (1966), que estudou aspectos de crescimento, eficiência reprodutiva e produção de leite de mestiços da raça Guernsey e, Carneiro & Lush (1948), em mestiços de Simental.


No final dos anos de 1960, outra iniciativa, a criação do Programa de Controle de Desenvolvimento Ponderal (CDP) pela Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), estabeleceu as bases necessárias a um novo impulso no melhoramento animal de zebuíno de corte. Tal programa teve, como paralelo, o Programa de Melhoramento de Bovinos (PROMEBO), estabelecido para gado europeu sob a responsabilidade do "Herd Book Collares". O controle leiteiro continua sendo instrumento importante de avaliação para o gado de leite. Como toda mudança, essas vieram impulsionadas pela exaustão da seleção fenotípica.

No entanto, para que se estabelecessem programas de seleção fundamentados essencialmente em parâmetros genéticos era necessário que se processassem as estimações, bem como se ampliasse a base de informações sobre a importância de fatores de ambiente.

Assim, a próxima etapa nesta evolução do melhoramento genético animal no Brasil foi constituída pelos trabalhos de determinação de parâmetros genéticos, fase que também se caracterizou pelo início de formação de um número maior de profissionais treinados em melhoramento genético animal. Neste aspecto podem-se citar, para gado de corte, os resultados de Torres (1961), Andrade (1973), Durães (1975), Miranda et al. (1975), Torres (1976), Euclides Filho (1977) e Figueiredo (1977).

14.3. Estabelecimento de programas abrangentes de melhoramento animal

Constituída esta base inicial, os esforços, tanto em seleção quanto em cruzamentos, foram ampliados. Desta forma, foram estabelecidos programas de avaliação e seleção dentro de rebanhos de corte e de leite. Em rebanhos de corte, o critério de seleção era constituído de peso à desmama, ao ano e aos dois anos de idade; com o tempo este critério evoluiu para além do peso, incluiu o ganho de peso. Mais tarde, os pesos mais importantes passam a ser desmama e sobreano. Retomam-se, também, os cruzamentos entre taurinos e zebuínos. Nesta fase inicial, as raças européias de grande porte dominam o cenário.

A partir do final da década de 1970, início dos anos 1980, iniciam-se as avaliações entre rebanhos, permanecendo os mesmos critérios de seleção, e a metodologia utilizada era a de índices, na qual consideravam-se a herdabilidade e o número de filhos por reprodutor. As pressuposições, neste caso, eram:
i) acasalamentos ao acaso em todos os rebanhos;
ii) inexistência de seleção; e
iii) somente indivíduos com filhos acompanhados recebiam avaliação genética.

A segunda metade dos anos de 1980 foi caracterizada pelo início das avaliações genéticas utilizando-se da metodologia dos modelos mistos, tendo como ponto de partida o modelo de touro e evoluindo rapidamente para o uso do modelo animal, que é capaz de levar em consideração:
i) acasalamentos dirigidos;
ii) as diferenças genéticas existentes entre grupos;
iii) DEP para todos indivíduos (no caso do modelo animal), além de possibilitar a estimação de tendências genéticas.

Esse avanço na capacidade metodológica vem sendo acompanhado por adequações nos critérios de seleção que não só se modificam, mas também passam a ser ajustados às diferentes necessidades, quer sejam demandadas por diferentes raças ou grupos genéticos, quer sejam oriundas de necessidades regionais, do sistema de produção e/ou de qualquer outro segmento da cadeia produtiva. Nesse contexto, precocidades reprodutiva e de acabamento assumem importância cada vez maior, com fertilidade, ganho de peso e eficiência de produção. Mais recentemente surgem como demandas adicionais a maciez da carne e, de forma ainda bastante incipiente, a resistência a parasitos, principalmente, ao carrapato (Euclides Filho, 1996a).

Possivelmente, como mencionado por Euclides Filho (1998), pela importância das características peso e ganho de peso para a pecuária de corte, torna-se extremamente importante avaliar-se o efeito do tamanho adulto na eficiência bieconômica dos sistemas de produção, nas condições brasileiras.

Além das características já mencionadas, merece discussão mais detalhada, mas principalmente, deve ser objeto de esforço conjunto, o desenvolvimento de ações entre o melhoramento genético e outras áreas do conhecimento, especificamente, áreas como nutrição/alimentação, reprodução,fisiologia e biologia molecular para o desenvolvimento de estudos, basicamente de seleção, que possibilitem promover:
i) mudança da curva de crescimento;
ii) mudança no nível de ingestão de alimentos;
iii) incremento da taxa de maturidade;
iv) redução de taxa metabólica ou na energia necessária para mantença, e
v) mudança na capacidade de perdas calóricas. Tais esforços deveriam ter avaliados seus efeitos e suas interações com outras características economicamente importantes e serem auxiliados pelas novas biotécnicas, principalmente, no que diz respeito à identificação de marcadores genéticos associados a tais características.

Com respeito à mencionada evolução em termos de metodologia de avaliação genética que vem sendo utilizada, isso pode ser observado, de modo geral, em todas as espécies de animais domésticos explorados economicamente no Brasil. Assim, o gado de leite evoluiu de seleção de touros baseada na capacidade mais provável de produção de suas mães para uso de modelo touro, avô materno e animal. A metodologia mais utilizada para avaliação de vacas e filhos de touros em teste era o método das companheiras de rebanho. Tal procedimento evoluiu segundo a mesma tendência. Vale ressaltar, todavia, que apesar de as metodologias evoluírem e se tornarem eficazes elas são dependentes da estrutura de dados disponível. Dessa forma, é importante que a coleta de dados seja conduzida com critério e orientada para os objetivos finais, ou seja, o objetivo do empreendimento, bem como o critério de seleção, deve estar bem estabelecido.

Em qualquer situação e/ou espécie animal, no entanto, a tendência geral é se promover a avaliação genética para características que possibilitem incrementos bioeconômicos, utilizando-se metodologias que possibilitem maior confiabilidade nas estimativas obtidas.

Nos últimos anos, principalmente pela necessidade de se aumentar a eficiência de produção, a pecuária de corte tem passado por uma restruturação global que tem trazido uma preocupação crescente com melhoria genética. Essa nova consciência tem resultado na estruturação de grande número de programas de melhoramento genético que deverão, a médio e longo prazos, capacitar a pecuária de corte nacional a competir bioeconomicamente, não só com outras atividades agrícolas, mas, principalmente, com o mercado externo.

Dentre estes programas podem ser mencionados o Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore, sob a coordenação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto; o Programa Nacional de Melhoramento Genético de Zebuínos, coordenado pela ABCZ; o Programa de Melhoramento Genético do Gado de Corte de São Paulo; o Programa de Melhoramento Genético da CFM; o Programa de Melhoramento Genético da Natura; o GENEPLUS, Programa Embrapa de Melhoramento; o Programa de Melhoramento Genético da Granja Rezende; o Programa de Melhoramento Genético coordenado pelo grupo GENSYS consultores, e outros grupos que têm sido formados principalmente após o lançamento do Certificado Especial de Produção (CEIP).

Esse certificado tem por objetivo não só o desenvolvimento de melhoria genética do rebanho de corte nacional, mas também possibilitar que criadores, isolados ou organizados em grupos, de animais sem registro genealógico, ou mestiços, possam, desde que devidamente orientados e com um projeto aprovado pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAA), emitir um certificado que garanta a qualidade genética de seus animais.


14.4. Critério de seleção versus objetivo-fim de um programa de melhoramento genético

À medida que se intensificam os sistemas de produção, e que se aumenta a demanda por eficiência, maior é a necessidade de se ter programas de melhoramento genético bem estruturados, com bom sistema de coleta de dados e com objetivos bem definidos; que sejam orientados para o mercado sem, contudo, desconsiderar as diferentes condições de ambiente geral existentes. Assim, como uma das principais premissas para alcançar sucesso, o programa de melhoramento genético de qualquer espécie animal deve estar fundamentado em objetivos e metas bem definidos, que estes sejam coerentes com a estrutura de mercado vigente e, certamente, condizente com as condições de ambiente geral.

Dessa forma, é importante definir-se claramente o que é objetivo-fim de um programa de melhoramento genético e o que se entende por critério de seleção. Denomina-se objetivo-fim, ou simplesmente objetivo em melhoramento genético, a combinação de atributos de importância econômica que se busca nos indivíduos, ou seja, aquilo que se deseja melhorar. Isso quer dizer que a mudança genética deve ser direcionada no sentido de atender ao mercado. Dessa forma, e somente assim, haverá retorno econômico no empreendimento. A sua definição é ditada pelo mercado, limitada pelo ambiente geral e norteada pela rentabilidade. Uma vez estabelecido o objetivo do programa de melhoramento, faz-se necessário definir o critério de seleção.

Entende-se por critério de seleção, a característica ou conjunto de características que serão medidas, e, a partir das quais, far-se-á a escolha dos indivíduos. Depreende-se daí que existe uma relação estreita entre objetivo-fim de um programa genético e critério de seleção, mas que estes não são, todavia, sinônimos. O critério de seleção pode ser uma combinação ponderada de características que resulte em um índice final de seleção. Essas ponderações devem ser constituídas por valores econômicos dados a cada uma das características que o compõe, ou seja, eles representam a contribuição de cada uma para o retorno econômico da seleção.


14.5. Melhoramento genético em gado de leite

A preocupação dos criadores brasileiros com a produção de leite, utilizando-se o zebu, é registrada desde o início do século, em 1916, na revista Chácaras e Quintais, como relata Domingues (1975). Apesar de já nesta época as recomendações técnicas indicarem a necessidade de se preocupar, nos trópicos, com idade à primeira cria, intervalo interpartos e comprimento do período seco, a produção de leite persistia como sendo a única característica importante. Concomitantemente aos trabalhos desenvolvidos por alguns abnegados produtores, e em alguns casos motivados por eles e/ou em parceria, técnicos começaram a dedicar esforços na melhoria da produção leiteira.

Domingues (1947), citado por Domingues (1975), apresentou um esquema para fazer do gado indiano um gado leiteiro. Segundo o autor, quatro eram as possibilidades:
i) seleção dentro do gado guzerá e gir;
ii) importação das raças Sindi e Sahiwal;
iii) seleção dentro da vacada comum; e
iv) cruzamento do zebu com raças leiteiras Bos taurus, principalmente, a raça Holandesa. Nesta época, segundo o próprio autor, em um exemplo de visão de futuro compartilhada por alguns criadores, já eram conduzidos trabalhos enfocando o primeiro item. Tais trabalhos vinham sendo desenvolvidos há algum tempo na fazenda Cantagalo com a raça Guzerá, e, em Umbuzeiro, com o gado gir.

Paralelamente a estes trabalhos de seleção empírica que continuava ocorrendo no país, consolidavam-se os cruzamentos entre raças européias e zebuínas como forma de se melhorar a produção leiteira. Tais cruzamentos, segundo Domingues (1953) e Carneiro (1955) citados por Marques (1974) eram, em sua maioria, formados por combinações entre zebuínos e holandês. Estes eram, no entanto, desordenados, por serem resultantes da pouca preocupação e da dificuldade de planejamento por parte dos produtores e pela inexistência de um equilíbrio genético definido, o que até aquele momento era também desconhecido.

Ainda no final da década de 1940, iniciou-se, em Uberaba, na Fazenda Experimental de Criação, um trabalho de seleção para leite, de um rebanho, puro indiano, sem a preocupação de caracterização racial. Assim, foram selecionadas as primeiras vacas com base exclusivamente no desempenho. Este foi o gado que, segundo Domingues (1966), daria origem ao zebu-leiteiro. Na tentativa de se aumentar a participação de produtores de leite e, principalmente, de divulgar os resultados que vinham sendo obtidos e ao mesmo tempo, valorizá-lo, são, na década de 1950, instituídos os torneios leiteiros no Brasil.

O desenvolvimento do zebu-leiteiro iniciado em Uberaba mostrou-se promissor como sugerem os resultados apresentados por Carmo & Prata (1961). Segundo estes autores, a média de produção diária do zebu-leiteiro era 7,6 kg superior àquelas obtidas por raças européias criadas em várias estações experimentais de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Outro parâmetro importante, a duração da lactação, evoluiu, ainda segundo os mesmos autores, de 263,1 dias em 1950, para 273,2 em 1959. Ao lado disso, a utilização de cruzamentos euro-indianos para produção de leite no Brasil firmava-se como uma alternativa viável, como foi evidenciada por Villares et al. (1947), que concluíram, após uma extensa revisão, que a combinação de raças zebuínas e taurinas eram responsáveis pelas seguintes melhorias:
i) aumento da produção de leite;
ii) maior regularidade de parição; e
iii) produção mais econômica.

Todavia, a tenacidade de alguns criadores continuava contribuindo para a melhoria da produção leiteira do zebu puro. Assim, é que Villares, citado por Santiago (1985), registra o trabalho dedicado e eficiente de seis criadores de gir, cujos rebanhos representaram de 1964 a 1978, 93,1% das lactações controladas pela Associação Brasileira de Criadores. A evolução do potencial leiteiro da raça Gir pode ser verificada na Tabela 2.

TABELA 2. Evolução da produção de leite das dez melhores vacas gir do Brasil, de acordo com três períodos de avaliação.

Período
Produção de leite (kg)
1950-1959
2.727
1964-1966
4.975
1971-1978
6.305
Fonte: Adaptado de Santiago (1985).

A partir da década de 1970, com base na opinião generalizada entre os especialistas, de que o gado mestiço de europeu-zebu continuaria predominando nos sistemas de produção de leite por muito tempo, estabeleceu-se o Programa do Mestiço Leiteiro Brasileiro. Mais tarde, em 1985, foi estabelecida uma parceria entre a Embrapa e ABCGIL que viabilizou o início do Programa do Gir Leiteiro. Esses programas, ainda em andamento, são coordenados pela Embrapa Gado de Leite.

Além desses, existem outros programas em andamento, podendo ser citados o Teste de Touros da raça Holandesa, que é desenvolvido pela central de inseminação Lagoa de Serra e algumas cooperativas do Paraná; o Programa de Melhoramento Genético do Guzerá, coordenado pela Universidade Federal de Belo Horizonte; e ainda, o recém-iniciado Teste de Progênie de Touros Girolando, com a participação de vários criadores e a associação de criadores da raça.

14.6. Melhoramento genético em aves

O Relatório da Agricultura de 1943, citado em Martins (1991), apresentou a discussão sobre a necessidade de se iniciar o desenvolvimento de novas modalidades de produção animal, entre as quais mencionou-se a avicultura. Essa preocupação inicial transformou-se em ações concretas e, assim, na década de 1950, foram iniciados os trabalhos pioneiros no tocante à genética de aves no Brasil. De acordo com Torres, em 1957, o Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária de Centro-Sul iniciou um programa destinado à obtenção de aves poedeiras comerciais. A esta mesma época, segundo Schmidt & Ávila (1990), a granja Guanabara começou seus trabalhos com melhoramento genético com vistas ao desenvolvimento de aves para corte.

Trabalhos pioneiros de cruzamentos envolvendo as raças Cornish Branca, New Hampshire e Plymouth Rock Branca, com o objetivo de se obterem frangos mais precoces, resistentes e eficientes e com melhor conformação de que os de raça pura, também foram iniciados nesta década na estação Experimental de Pindamonhangaba, SP.

Nos anos de 1960, a Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ) iniciou pesquisas em genética de galinhas. A partir de meados dos anos de 1970, a seleção de linhagens deu lugar às pesquisas em genética. A próxima instituição brasileira a se engajar nesta luta, de acordo com Torres, foi a Universidade Federal de Viçosa. Ao final da década de 1970 início dos anos 1980, outras instituições ligadas à pesquisa começaram a investir em melhoramento genético de aves. Podem ser citados o Instituto de Zootecnia em Nova Odessa, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e a Universidade de Santa Maria (UFSM). Mais tarde, já em 1983, a Embrapa, por meio do Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves (Embrapa Suínos e Aves), iniciou o seu programa, visando à formação de linhagens de aves comerciais para produção de carne que, posteriormente, tornou-se mais abrangente, incluindo um programa de linhagens para postura.

No entanto, apesar de todos estes esforços, o desenvolvimento da área de genética avícola no país é inferior ao que se deveria esperar. Possivelmente, os avanços obtidos por outros países na obtenção de linhagens altamente produtivas tenham contribuído para que poucos programas fossem implantados e, principalmente, implementados com êxito. Por outro lado, o consumo, a produção e a exportação de carne de frango têm crescido consistentemente entre os anos de 1974 e 1983 (Tabela 3). Esses dois fatos contrastantes configuram uma avicultura dicotômica, onde a alta produtividade é, todavia, fundamentada em desenvolvimento genético de outros países.

O final da década de 1980 permitia vislumbrar um futuro promissor para a área de genética de aves no Brasil, como vaticinava Torres. Os anos de 1990, no entanto, pela abertura de mercado, pela globalização, talvez pela competição com a iniciativa privada que pelo controle de algumas multinacionais dominam o mercado de matrizes, fez com que os esforços governamentais nesta área diminuíssem levando aqueles diretamente envolvidos no setor a preverem o desaparecimento em um futuro próximo, caso não se consiga convencer a iniciativa pública e/ou privada que é possível obterem-se retornos econômicos com melhoramento genético de aves no Brasil.

TABELA 3. Produção e destino do frango de corte no Brasil.
Ano Produção (tonelada) Variação

(%)
Consumo

interno (%)
Exportação

(%)
1974 484.000 - 100,0 -
1975 519.000 7,2 99,3 0,7
1976 604.000 16,4 96,7 3,3
1977 698.000 15,5 95,2 4,8
1978 858.000 22,9 94,1 5,9
1979 1.096.000 27,7 92,6 7,4
1980 1.230.000 12,2 86,2 13,8
1981 1.400.000 13,8 79,0 21,0
1982 1.507.533 7,7 80,0 20,0
1983 1.489.364 -1,2 80,6 19,4
Fonte: ABEF E APINCO

14.7. Melhoramento genético em caprinos

À semelhança dos bovinos, os primeiros caprinos a serem introduzidos no Brasil vieram da península Ibérica e possivelmente tenham chegado aqui nos primeiros anos do Brasil colônia. Esses animais se adaptaram, principalmente, em regiões semi-áridas das Américas o que, segundo Figueiredo (1990), explica a grande semelhança existente entre produção e grau de adaptação dos diversos ecotipos ou raças de caprinos nelas existentes. No entanto, somente nos últimos cinqüenta anos a caprinocultura brasileira tem recebido maior dedicação por parte dos pesquisadores e produtores.

Apesar de ser de introdução tão antiga, pouco se dedicou, em pesquisas, nesta espécie. Até meados deste século, alguns poucos esforços, para caracterização biológica, foram feitos. No entanto, segundo Figueiredo et al. (1987), a ênfase maior na produção e pesquisa em caprinos foi iniciada após a criação do Centro Nacional de Pesquisa de Caprinos da Embrapa (Embrapa Caprinos) em meados dos anos de 1970.

De acordo com Figueiredo (1990), a contribuição da pesquisa brasileira na área de melhoramento genético tem sido a identificação de tipos de cruzamentos mais adequados a diferentes sistemas de produção e o estabelecimento de critérios de seleção de reprodutores e matrizes. Resultados experimentais, como os de Bellaver et al. (1983) indicam grandes diferenças entre grupos genéticos no tocante a desempenho ponderal pré-abate, peso de carcaça quente, comprimento de carcaça, comprimento de perna, profundidade de tórax, peso de pele e rendimento de carcaça. Diferenças entre raças são também reportadas por Figueiredo et al. (1982), citados por Figueiredo et al. (1987).

Resultados de pesquisas conduzidas por Figueiredo (1986) e Souza (1996) mostraram que na região Nordeste, maior produtora nacional de caprinos, seleção para animais de duplo propósito conduz a um aumento da eficiência de produção de proteína no sistema. Tais resultados, segundo Figueiredo et al. (1987), redirecionaram as pesquisas em caprinos, que eram primariamente voltadas para produção de carne, tendo na produção de pele, sua segunda atividade, para priorizarem a produção de leite. Outros resultados de cruzamentos foram discutidos por Fernandes (1984), Figueiredo et al. (1987) e Pant (1985) (Tabela 4).

No tocante à produção leiteira, alguns resultados podem ser encontrados em Rodrigues et al. (1982) e Souza et al. (1984). Esses resultados permitiram aos autores concluir que o potencial de produção de leite das raças adaptadas ou dos grupos chamados sem raça definida é baixo e, por isso, não é interessante economicamente mantê-las com este propósito.

Assim, considerando-se os resultados acumulados, conclui-se que o cruzamento com raças exóticas, como a Parda Alemã, seria o caminho mais indicado. Hoje, além dos programas conduzidos em cooperação com instituições de pesquisa e universidades, existem alguns sendo desenvolvidos por cooperativas como é caso do Programa de Melhoramento de Caprinos da Copercana que tem como objetivo principal a melhoria da produção leiteira conforme Pinto (1996).

14.8. Melhoramento genético em ovinos

Apesar de os ovinos serem criados no Brasil há muitos anos, só muito recentemente iniciaram-se os trabalhos de melhoramento genético nesta espécie. A preocupação com a criação e melhoria de suas características produtivas fica evidente, já no início deste século, com a criação, em 1918, em Itapetininga, SP, da Fazenda de criação que tinha como objetivo a criação de ovinos Romney-Marsh. De acordo com Cardellino (1996), os objetivos de seleção para esta espécie, no Brasil, ainda não estão bem definidos por falta de estudos formais para tal identificação e, principalmente, pela falta de estruturação dos mercados de lã e carne.

Assim, mesmo havendo outras características de importância para a indústria, aquelas que integram os objetivos de seleção são: peso de velo sujo, peso de velo limpo, diâmetro das fibras, comprimento de mecha e fibras pigmentadas. Ainda segundo o mesmo autor, apesar de o melhoramento genético de ovinos não se constituir em uma atividade consolidada no Brasil, há progressos e pode-se prever um grande potencial para o futuro.


Dentre as iniciativas consideradas marcantes voltadas para o melhoramento genético desta espécie, pode-se destacar a estruturação, em 1978, do Programa de Melhoramento Genético de Ovinos (PROMOVI) voltado para melhoria da produção e qualidade da lã. Em 1989, iniciaram-se entendimentos para se estabelecer o PROMOVI direcionado para carne, que à semelhança do anterior, que era voltado para lã, tem encontrado dificuldades para se expandir e se estabelecer. Atualmente, parece receber maior atenção por parte dos criadores, o teste dentro de fazenda.

Quanto à metodologia de avaliação, sua evolução para ovinos lanados não tem seguido aquela observada no desenvolvimento dos métodos, principalmente no tocante ao uso de modelo animal, não só pelo volume de informações disponíveis, mas também pela sua qualidade e pelo tipo de dados disponíveis (Cardellino, 1996). A situação não é muito diferente no que se refere a ovinos deslanados de acordo com Souza (1996).

Existe um programa nacional, coordenado e gerenciado pela Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO), que é o Serviço de Registro e Análise de Dados de Desempenho para Avaliação Genética de Reprodutores Ovinos Lanados (SAGRO). De acordo com Ojeda (1996), esse serviço desenvolve um programa de avaliação e seleção que envolve três etapas:
i) avaliação individual comparativa dentro de grupo contemporâneo no estabelecimento;
ii) teste centralizado de desempenho de cordeiros das raças para carne; e
iii) avaliação de carneiros pelo desempenho das progênies em centrais de teste.

A disposição dos criadores para com os testes dentro de fazenda, aliada a um programa de estruturação, acompanhamento e coleta de dados, poderá se constituir em elemento fundamental para que avaliações genéticas globais sejam conduzidas e resultem em programas genéticos que possibilitem à ovinocultura brasileira alcançar padrões elevados de produtividade.

14.9. Melhoramento genético em suínos

O início da preocupação com o melhoramento genético de suínos no Brasil confunde-se com o despertar desta consciência na Europa. A Dinamarca, primeiro país a investir em melhoramento genético de suínos, iniciou, segundo Irgang, os testes de progênie em 1910.

No Brasil, em 1916, foi fundada a fazenda de criação de Barueri, SP, que tinha como um dos objetivos o melhoramento do porco nacional Canastrão por meio de seleção e cruzamentos. Nesta fazenda criava-se, ainda, para seleção, animais importados das raças Duroc Jersey e Polland-China.

Em 1956, foi estabelecido um acordo de cooperação entre o Departamento Nacional de Produção Animal e o Departamento de Produção Animal da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo que, entre outros itens, previa o desenvolvimento de projetos de melhoramento animal envolvendo suínos, aves, e bubalinos. No tocante a suínos, fizeram parte do mencionado acordo, os projetos englobando seleção e melhoramento de animais da raça Duroc-Jersey a serem desenvolvidos na Fazenda Experimental de Criação de Sertãozinho, em São Paulo, e na Fazenda Experimental de Criação de Santa Mônica, no Estado do Rio de Janeiro. Em Sertãozinho seriam ainda conduzidos os trabalhos de fixação de características raciais e o melhoramento de características produtivas da raça Piau. Trabalhos semelhantes seriam realizados na Fazenda Experimental de São Carlos, SP. A seleção e melhoramento dos suínos Nilo-Canastra ficariam sob responsabilidade do Posto Experimental de Araçatuba, SP.

Ainda na década de 1950, iniciaram-se as importações de raças como a Berkshire, Tamworth e Wessex, ao mesmo tempo que eram feitas novas importações de Duroc Jersey e Polland China. A década de 1960 foi marcada pelas importações provenientes dos Estados Unidos, principalmente, de suínos das raças Duroc, Yorkshire e Hampshire. Nesta época, foram introduzidas, da Europa, as raças Landrace e Large White. Este volume de introdução de material genético selecionado e de boa qualidade resultou num processo de substituição das raças nacionais que eram predominantemente do tipo banha e marcou o início da intensificação de criações de suínos de raças puras do tipo carne. Surgiram então os criadores especializados reunidos na Associação Brasileira de Criadores de Suínos. Somente nos anos de 1970, têm início os testes de progênie, com os quais são formados os primeiros plantéis núcleos nacionais.

Os cruzamentos entre raças também se constituíram em importante forma de se aumentar a produtividade dos plantéis. O impacto deste processo pode ser avaliado em diversos trabalhos com Irgang et al. (1990) e Irgang et al. (1993). Os resultados destes trabalhos indicaram aumento na taxa de ganho de peso diário, melhoria da precocidade, maior número de embriões viáveis e maior número de leitões por leitegada.

Na década seguinte, de 1980, deu-se início à uma grande transformação na genética de suínos no Brasil, principalmente pela organização e estruturação de programas bem elaborados.

Iniciam-se, assim, os testes de desempenho e os chamados testes de granja, que são conduzidos pelos criadores de reprodutores. Nesta mesma época, grandes empresas de melhoramento genético, como Agroceres-PIC e Seghars-Humus pecuária, iniciaram atividades comerciais no Brasil. Tudo isso levou a suinocultura à produção e comercialização de fêmeas F1, à intensificação da comercialização de reprodutores mestiços e à ampliação dos plantéis núcleos existentes, bem como à instalação de novos núcleos.

Neste período, intensificaram-se os programas de seleção que tinham como principal objetivo de seleção o aumento da taxa de crescimento, e estabeleceram-se como empresas brasileiras detentoras de programas de melhoramento genético, a Sadia, a Granja Rezende e a Agroceres. Somente no início dos anos de 1990, teve início a preocupação com a seleção para aumento do rendimento de carne. Nesta década, segundo Irgang, viabilizou-se o uso de técnicas de DNA para melhoria genética dos plantéis.

À semelhança do que vem ocorrendo com outras espécies de animais domésticos, o melhoramento genético de suínos vem passando por modificações e se adequando às metodologias modernas de avaliação. Isso pode ser observado pelas constatações feitas por Irgang, de que os testes de progênie que receberam muita atenção nos anos de 1970, e eram realizados nas chamadas Estações de Avaliação de Suínos (EAS), tiveram sua importância reduzida até finais dos anos de 1980, quando deixaram de existir.

É importante notar que tendência semelhante foi verificada para os chamados testes de machos, conduzidos nas Estações de Teste de Reprodutores Suínos (ETRS). Tais testes, que em 1983 eram realizados em quinze unidades, com capacidade para 2.500 machos/ano, foram perdendo importância e, em 1995, representavam somente seis unidades.

14.10. Melhoramento genético em búfalos

Há muitas décadas o búfalo vem sendo criado no Brasil sem que, no entanto, tenha havido um programa mais intenso de melhoramento genético nesta espécie. Apesar disso, iniciativas isoladas foram tomadas desde a década de 1950, como menciona Villares et al. (1979). Segundo esses autores, em 1958 foram iniciadas as provas de ganho de peso na Estação Experimental de Criação e Sertãozinho. Mais tarde, ainda de acordo com esses autores, outras centrais de prova foram sendo estruturadas. Em fins dos anos de 1970, Villares et al. (1979) fizeram uma avaliação global dessas provas e observaram ganhos médios de peso iguais a 144,4; 148,1 e 123,6 kg para as raças Mediterrânea, Jafarabadi e Murrah, respectivamente, em 140 dias de confinamento.

Até a década de 1980, estas foram as ações para identificação e seleção de animais com búfalos de corte. Com respeito à produção leiteira, até 1980, as avaliações e seleção vinham sendo feitas de acordo com Ramos, com base na produção de leite. Após esta data iniciaram-se as seleções com base na capacidade mais provável de produção das búfalas, avaliações estas que, em alguns casos isolados, evoluíram para o uso de modelos mistos com estimativas de BLUP e, mais recentemente, o uso de modelo touro e modelo animal.

Todavia, apesar de inexistir em programas bem estruturados envolvendo grandes populações de animais desta espécie, o que possibilitaria evolução mais rápida e maiores progressos genéticos, quer seja para leite, quer seja para carne, alguns trabalhos, como o que vem sendo conduzido na Fazenda Panorama, município de Camaquã, RS, Ramos, indicam a possibilidade de se promover melhorias nos rebanhos brasileiros. Nesta propriedade, onde vem sendo conduzido teste de progênie desde 1990, tem-se conseguido reduções na idade de abate dos animais, que passou de 24 meses em 1989, para 19 em 1992.

Evoluções são também apresentadas por Villares et al. (1979), para rebanhos leiteiros. Neste caso, esses autores verificaram, para o Estado de São Paulo, incrementos de, aproximadamente, 2.200 kg de leite entre os quinquênios 1964-68 e 1974-78, associados a uma diminuição na duração da lactação de, aproximadamente, 20 dias e aumento no teor de gordura. Como ressalta Ramos6, progressos genéticos têm sido obtidos também para produção de leite em vários rebanhos leiteiros no Brasil.

No entanto, como ultimamente, esta espécie tem apresentado grande expansão no Brasil com crescimento, segundo Ramos6, de 10% ao ano, é de se esperar o desenvolvimento de programas de melhoramento genético bem estruturados. Esse grande crescimento populacional se deve à capacidade de estes animais serem rústicos, bons conversores de alimento quando explorados para leite e carne, longevos e poderem ocupar espaços não habitados por outras espécies animais exploradas economicamente pelo homem. Baseado nisso, e nos resultados que vêm sendo obtidos, Ramos6 apresentou uma proposta de programa de melhoramento genético da espécie a ser conduzido com a Associação Brasileira de Criadores de Búfalos.

Cruzamentos também têm sido adotados como forma de se promover melhoria do desempenho como pode ser observado pelos resultados de Marques (1991) (Tabela 5). Esse autor encontrou estimativas de herdabilidade para diversas características produtivas e reprodutivas, entre as quais podem-se citar os valores de 0,249 para intervalo interpartos, 0,39 para período de serviço, 0,304 para produção de leite e 0,412 para peso à desmama.

TABELA 5. Desempenho produtivo e reprodutivo de búfalas das raças Murrah, Mediterrâneo e seus mestiços.

Grupo genético

IPC1

(mês)

PS

(dias)

DL

(dias)

PL

(kg)

PG

(kg)

%G
Mediterrâneo (ME)
37,9a

119,9a

232,7a

1338,9a

96,8a

7,1a
Murrah (MR)
38,4ab

128,0b

238,6a

1316,0a

92,8a

7,3b
ME-MR
37,7a

124,7ab

274,2b

1696,4b

118,1bc

6,9a
3/4 MR
38,9b

133,8c

266,6c

1746,6c

121,3b

6,9a
7/8 MR
38,9b

143,8d

256,6d

1746,6c

116,6c

6,7c
a,b,c,dMédias, na mesma coluna, com o mesmo sobrescrito não diferem entre si (P maior que 0,05).
1IPC - intervalo interpartos, PS - período de serviço, DL - dias em lactação, PL - produção de leite,
PG - produção de gordura, %G - percentagem de gordura.
Fonte: Adaptado de Marques (1991).
A cara do Nelore
Por Orestes Prata Tibery Junior




Criticar a seleção da raça Nelore, no estágio em que se encontra, de excelentes preços e com animais de pista acima de 1.500 gramas de ganho de peso ao dia pode parecer coisa de despeitado ou, no mínimo, de quem não entende nada de seleção.
Despeitado, quem me conhece sabe que não sou. Ninguém é mais preocupado com o sucesso da raça do que eu. Porém, o que desejo é que este sucesso não seja passageiro. É preciso que esteja alicerçado na pureza racial, que está sendo des-caracterizada; na harmonia da carcaça, que está sendo menos importante que o superpeso; na fertilidade, que está sendo valorizada pela prenhez precoce (precoce demais), sendo que esta prenhez, na grande maioria, é feita artificialmente, principalmente para fêmeas de pista. Esta é a minha preocupação: as invenções e os exageros, des-prezando o equilíbrio, a harmonia.
Quanto a entender de seleção, confesso que da maneira que está sendo direcionada realmente não entendo nada.
Chega de peso. Se quisermos levar a raça para 2.000 gramas ao dia, com certeza conseguiremos, pois o Nelore tem "laceio" para isto. Vale a pena? E as conseqüências? Os bezerros vão conseguir nascer normalmente? Muitos se vangloriam de estar colhendo bezerros de 50 e mesmo 60 quilos. Isto já aconteceu na minha fazenda e muitos só nasceram com a ajuda do peão e, alguns, com cesariana.
Vamos analisar o que está acontecendo nas pistas. Peguem o catálogo, acompanhem o julgamento e constatem que mais de 88% dos premiados são os mais pesados. Vejam que um animal com ganho de peso de 1.300 gramas/dia (ótimo ganho), harmonioso, caracterizado, com bons aprumos, não ganha de um com ganho de peso de 1.500 gramas/dia "meia boca".
Será que os mais pesados são os melhores? Já atentaram para a quantidade de medidas que colocam no catálogo? O juiz tem condições de avaliar animal por animal? Elas são corretas? O animal mexendo no tronco, mais de mil para medir, comprimento, altura, testículos etc. Será que sai tudo certinho?
Temos bons juízes que entendem de raça e carcaça. Mas alguns deles não conseguem se livrar deste verdadeiro arrastão "tecnológico".
Lembrem-se que Nelore é Nelore. É único. Não pode seguir os métodos de seleção das raças européias. O Nelore é rústico e fértil. Não escolhe capim nem qualidade de terra. Uma vacada Nelore a campo, com touros suficientes, eliminando as solteiras vazias, depois de algum tempo passa a parir com a precisão de um relógio suíço, igual bicho.
Infelizmente, neste campo da fertilidade, também já começaram as invenções, para mim as mais graves. O assunto da moda é a prenhez precoce. O exagero é tanto que estavam valorizando nas pistas bezerras prenhas aos 13, 14 e 15 meses. Acho isto um absurdo, pois a maioria destas bezerras estava sendo inseminada através de cios provocados artificial-mente. Isto é seleção? Vários amigos criadores me falavam que tinham de usar deste artifício para ter chance nas pistas. Eu também, por um período, fiz esta bobagem para não perder muito feio.
A prenhez obrigatória para a fêmea com 500 quilos foi uma piada, pois este peso já estava sendo alcançado por bezerras de 13 e 14 meses. Muitas vezes, na exposição de Uberaba (MG), antes do peso, podíamos ver bezerras nos currais, sem comer, porque ainda não estavam prenhas e não podiam pesar 500 quilos. Fazendo regime para poder concorrer. Isto é seleção? E o pior. Nossa comissão da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) que mudou a obrigatoriedade dos 500 quilos para 20 meses foi criticada por alguns que já estavam achando os 500 quilos defasados.
Estão querendo ganhar do europeu em tudo, até na prenhez superprecoce que é característica destas raças, que na sua origem nascem e parem com ótima alimentação. E aqui no Brasil continuam com estas exigências. E mais: clima, sombra, carrapaticidas, etc. para sobreviverem.
A fertilidade de uma matriz é avaliada durante a sua vida reprodutiva. Uma bezerra que dá cio aos 12 ou 13 meses pode perder no fim da sua história de parições para a novilha que prenhou com 20 ou 22 meses. Esta bezerra, quando parir, se não estiver em ótimas pastagens ou com ajuda de alimento no cocho, vai dar cio só depois que desmamar o bezerro. Esta é a realidade.
Temos que selecionar as famílias de vacas parideiras e longevas. Aí é que damos um verdadeiro banho nas não zebuínas, que, com dez anos estão se aposentando, tendo a Nelore quase outro tanto em franca atividade reprodutiva.
Os criadores também são grandes pesquisadores. Acho que deveria haver maior aproximação entre técnicos e criadores, com troca de informações em que prevaleça o bom-senso, o equilíbrio, sem esta busca de novidades, copiando seleções americanas e européias, que volta e meia estão "quebrando a cara" com métodos que nem sempre dão certo. Selecionar o Nelore é diferente porque é uma raça diferente. Responde a tudo que quisermos implantar. Porém, toda mudança traz também conseqüências indesejáveis e não podemos atirar a esmo. A tecnologia está aí e não pode ser desprezada, basta não inventar.
Já erramos feio com os pernaltas que atrasaram a nossa seleção. Agora estamos com o exagero do peso e da prenhez precoce. O Nelore já tem peso suficiente, vamos cuidar da boa distribuição da carcaça, principalmente das garupas volumosas. A garupa cheia não atrapalha no nascimento do bezerro. Passando a cabeça e a paleta, o resto sai com facilidade.
Nestes detalhes é que o criador fazendeiro pode ajudar, pois a maioria participa do dia-a-dia da fazenda, vê os bezerros nascerem e acompanham o seu desenvolvimento, observam que as mães dos grandes raçadores não são as vaconas pesadas e grosseiras e sim as femininas, caracterizadas e harmoniosas.
Temos ótimos técnicos, alguns filhos de criadores e outros que, mesmo não tendo participado do dia-a-dia da criação, são observadores e têm o dom natural e necessário, pois sem este predicado, sem o jeito pela coisa, não conseguem avaliar em detalhes e, aí, a solução é premiar o mais pesado.
Muitos juízes já não estão aceitando os "fenômenos". Alguns já estão colocando estes pesadões e principalmente as pesadonas do terceiro lugar para trás, tirando-lhes a chance de disputar campeonatos.
Acho que temos juízes capazes de avaliar os animais sem todas estas informações que na verdade só atrapalham o bom julgamento, induzindo-os a escolherem o caminho dos mais pesados. Não podemos deixar de valorizar as características raciais. Antes da importação de 1962 o nosso Nelore estava sem rumo. Só existiam dois ou três touros que alcançaram 1.000 quilos depois de adultos. Lembro-me do Egípio do Brumado e do Iman do Mario Franco. Depois da importação, começou a grande arrancada que transformou o Nelore na maravilha que é. Por muitos anos a raça foi selecionada buscando o seu aperfeiçoamento como raça de corte e mantendo as características raciais que o padrão da ABCZ tão bem descreve. O Nelore não pode perder a cara de Nelore, do Ongole. É a cara do Nelore indiano, da sua origem, com chifres chatos, cabeça seca, goteira nos machos, olhos elípticos, chanfro e focinho largos. Estas características têm que ser preservadas e não inventadas. Estou vendo animais premiados com chifres redondos, marrafas altas, chanfros e focinhos finos. O padrão racial existe e tem que ser respeitado, pois a cara do Nelore não pode caminhar para virar cara de Brahman. Não tenho nada contra esta raça, só que: Nelore é Nelore e Brahman é Brahman.
A responsabilidade dos criadores e dos técnicos que valorizam a raça é muito grande no policiamento contra os adeptos de mudanças por conveniências, como o absurdo de colocar touro LA em vaca PO e o de descornar o Nelore.
Pensam que isto é fofoca, pois saibam que estas duas propostas foram apresentadas na última reunião do conselho técnico e, felizmente, levaram tinta. Mas o perigo existe, é real. Como exemplo, posso citar o que aconteceu com a fantástica raça Guzerá, que vinha evoluindo a galope; aprovaram a descorna e o Guzerá ficou com a cara igual a do Brahman. Agora ficou fácil misturar e "mascarar".
São mais de setenta anos de seleção, de grandes criadores, que foram buscar animais na Índia e continuam com plantéis maravilhosos, selecionando precocidade e raça, mostrando vacas fantásticas nos leilões de embriões, felizmente muito valorizados pela grande maioria dos criadores.
Todo este trabalho de seleção, feito com critério, respeitando o padrão, está sob ameaça de outras correntes, a dos que querem começar com o cara limpa, registrar no LA, cuja filha desta LA já estará parindo PO, que na verdade não é PO e nunca será. O que precisamos é acabar com o registro do "cara limpa", cujo comércio, prejudica muito a raça Nelore, formando seleções milagrosas que nascem da noite para o dia, fazendo provas de ganho de peso, indicando "qualidades" de touros sem pedigree, fazendo acasalamentos pelo computador. LA é touro comercial para cobrir vacas de corte. Acho que os PO, originários do LA, deveriam ter um pedigree com cor diferente para sabermos sempre de onde vieram.
Se bobearmos, vai chegar o dia que o catálogo vai ganhar de 100% e os animais não precisarão comparecer às pistas.
O Nelore precisa ter peso, precocidade, carcaça harmoniosa, fertilidade e cara. Insisto. Não podemos inventar. A cara do Nelore é a da sua origem, do Nelore indiano, de animais com história e carga genética, conseguidas através de anos de seleção e de cruzamentos programados, formando genealogias que não podem ser comparadas com as originárias dos cara limpa e LA, que em lugar do caranguejo deveriam ter na cara a marca "?".
Pecuária de Corte



Pecuária de corte é um dos ramos de atividade que exerce o pecuarista, ou o criador de rebanho.

Existem tipos diferentes de pecuária de corte, variando de acordo com o tipo de rebanho a ser abatido como bovinos, caprinos e ovinos:

* O abate de novilho ou garrote, exige um rebanho mais aprimorado e maior tecnologia é chamada de corte novo ou abate de novilhos.

* De gado velho, o corte é denominado de abate velho ou gado de montaria. Não confundir com montaria de cavalgar (andar a cavalo).

* De gado confinado ou gado preso, esse tipo de abate é usado para engorda do gado e posterior abate, quando precisa-se de carne mais nobre e em maior quantidade.

* Seletivo, esse tipo de abate não é muito comum, pois usa-se costumeiramente, abater o animal doente e posteriormente incinerar sua carcaça. Esse tipo de abate, normalmente é realizado sob a supervisão da autoridade sanitária, pois normalmente abata-se os animais doentes e os que tiveram contato diretos, como medida de prevenção e erradicação da doença.

* No caso dos caprinos e ovinos o abate se dá dos 4 aos 6 meses pois é o período em que se atinge um peso de caraça por volta dos 40 kg, a depender da raça ou cruzamento industrial. O abate é feito precocemente por um odor característico que se manifesta nos animais a partir do 7 mês. É uma carne de excelente qualidade com baixos níveis de colesterol LDL.
História da Raça Nelore



As tribos arianas invadiram a Índia, desde 5.000 a.C., deixando muitas raças diferentes de gado por onde passavam. No Pundjab ficou a raça Bhagnari, que é muito semelhante ao Ongole,embora esteja a mais de 2.000 quilômetros de distância. No roteiro das migrações daquelas tribos, traçado por Olver, encontram-se diversas raças branco-cinza do norte indiano que foram surgindo no correr dos milênios, tais como a Nagon, a Rath, a Gaolao e a raça-mãe: a Hariana. A Índia chegou a ter mais de 500 "reinos", comandados por marajás e eles apreciavam diferenciar até o gado que possuíam daquele dos vizinhos. Por 550 existem até hoje muitas raças e variedades no país.

As migrações percorreram a Índia do Noroeste para o Sudeste, encerrando-se na província de Andhra Pradesh e lá o gado Ongole iria se desenvolver, promovendo vários cruzamentos com raças locais. O livro "Nelore: a vitória brasileira" (1994) mostra que o Nelore moderno é fruto da influência de 14 outras raças.

Em terras negras e férteis, o Ongole grangeou fama, tornando-se um gado de grande porte e campeão de trabalhos pesados.

Na atualidade, o Ongole continua em sua marcha milenar, na Índia, sem grandes melhoramentos, urna vez que não se pratica seleção para corte. E, no entanto, um gado de grande porte, muito utilizado em tração e transportes pesados, além de ser figurante constante dos concursos de força - tudo desenvolvendo urna possante musculatura. Não há dúvida que a Índia continuará gerando "sementais" de interesse para o Brasil, sempre.



A Consolidação do Nelore no Brasil

Em 1874, o Barão do Paraná adquiriu um casal do gado Ongole em um zoológico de Londres, repetindo a compra em 1877. Em 1878, Manoel Ubelhart Lemgruber comprou um lote no jardim zoológico de Hamburgo. A seguir passou a encomendar animais diretamente da Índia por empresas especializadas no fornecimento de animais para circos e zoológicos. Dessa maneira, o Ongole foi descoberto pelos brasileiros e migrou para sua nova pátria, onde ocuparia um lugar de destaque no cenário e,partindo dali, chegaria ao mercado mundial. Mais tarde, entre 1900 e 1920, os próprios brasileiros começaram a buscar Ongole na Índia, escolhendo os melhores e reservando-os na província de Nelore, antes do embarque. Dai surgiu o nome "Nelore" para esse gado. Ou seja, o gado "Nelore" era o "Ongole destinado aos brasileiros" que ficava na província de Nelore enquanto aguardava o navio. Logo no começo da história, o Nelore era cruzado com o Guzerá, formando um "Guzonel" portentoso e muito rústico, que incentivou muita gente a escolher o Zebu. Foi esse gado que enfrentou uma longa "guerra" contra o governo de São Paulo, culminando pela proibição do ingresso do Zebu nas fronteiras do Estado até 1935.

Com o início dos cruzamentos sistemáticos para formar o Indubrasil as fêmeas Guzerá e Nelore passaram a ser utilizadas como base para o novo gado, reduzindo-se o rebanho nacional a poucos criadores, na década de 1920.

Com a importação de 1930, por Ravisio Lemos, o Nelore ganhou um inolvidável impulso, chegando caracterização racial que seria homologada pelo Registro Genealógico. Também nesse tempo, o Nelore brasileiro consolidava uma fisionomia um pouco diferente do Ongole indiano, apresentando uma marrafa mais estreita (influência do Kangayam), boa distribuição muscular, menor aptidão leiteira, chifres mais longos, introdução do chifre "penteado", consolidação de um andamento peculiar com passos mais curtos, etc. Nas exposições da década de 1940, o Nelore ainda constituía um rebanho inexpressivo, no Triângulo Mineiro, participando das exposições com menos de 10 animais, enquanto o Indubrasil e o Gir lotavam os pavilhões.

Durante a 2ª Guerra Mundial, quando eram testadas novas forrageiras, principalmente o colonião e as primeiras braquiárias, o Nelore passou a ocupar largas fronteiras onde antes nada havia. Mostrava sua versatilidade e rusticidade, ampliando o horizonte da pecuária e da própria civilização. Um grande impulso aconteceu na década de 1950, quando o Prof. João Barisson Villares introduziu as Provas de Ganho de Peso, com presença maciça de Nelore. Dai para a frente a raça passaria a ser conhecida como a melhor para criação extensiva, apresentando estatísticas de desempenho em provas zootécnicas. Se, antes, muitos empresários evitavam a pecuária, por julgá-la "negócio complicado e subjetivo", agora havia números e estatísticas, permitindo que qualquer um pudesse compreender o próprio negócio, desde o inicio. O Nelore trouxe o empresariado urbano para dentro das fazendas... e nunca mais o largou.



Logo a seguir, as importações do início da década de 1960 trouxeram animais exponenciais da Índia, provocando um acelerado melhoramento genético. Nas décadas de 1970-1980 governo federal incentivou a implantação de mais de 1.500 grandes propriedades de pecuária de corte, todas utilizando exclusivamente reprodutores registrados Nelore, resultando em mais de 2,5 milhões de animais selecionados inscritos naquele período. Rapidamente, o Nelore chegou a 70% do total de zebuínos registrados no Brasil.

A partir de então, a produção de carne deu um salto, aumentando o consumo per capita nacional e deixando sal, do para exportações. Modernamente, os pecuaristas procuram avidamente mais tecnologias para aumentar o desfrute e a lucratividade, tendo sempre o Nelore como base.

Tamanho sucesso foi possível porque o Nelore demonstrou ser um animal "bandeirante", ou seja, um desbravador de novas fronteiras, não somente fronteiras geográficas mas também fronteiras científicas. O Nelore provou-se, por si mesmo, e conquistou seu lugar, principalmente pela habilidade da vaca em conceber e parir sua cria, sem qualquer ajuda, sob a inclemência do sol tropical. Hoje, pode-se afirmar que o Nelore é a raça zebuína com maior contingente pesquisado e aprovada no mundo, somente tendo paralelo com a raça européia holandesa.

Em 1969 foi inaugurado o Registro Genealógico para o Nelore Mocho. Em 1984 foi inaugurado o Registro Genealógico para o Nelore "variedade de peIagens". Em 1999 ficou estipulado que o Nelore dispensaria as variedades passando a ser apenas uma única raça, admitindo o caráter mocho e as variedades de pelagens.



Checurupadu - Bi-Campeão de todas as raças da Índia.

O Nelore na modernidade

Em 1999, o Nelore e o Nelore Mocho fundiram-se numa mesma raça, devendo ser julgados pelos mesmos critérios. Ou seja, o Nelore Mocho, como descrição, deve ser exatamente um Nelore tradicional ... sem os chífres. O Nelore predomina de norte a sul do país, com 75,32% do Registro Genealógico de Nascimento entre todas as raças zebuínas. O rebanho "cara-limpa", ou seja, de Nelore puro mas sem registro genealógico, congrega muitos milhões de animais. O rebanho de gado anelorado talvez já tenha ultrapassado a cifra de 100 milhões de cabeças. Sem dúvida, representa o maior rebanho de corte do mundo!

Existem dois Nelores: o de elite, selecionado por um algumas centenas de criadores, com animais que nada ficam a dever aos melhores espécimes europeus do planeta; e o comum, mantido nos campos, com baixo desempenho e causador do baixo desfrute nacional. O melhoramento do gado geral é lento uma vez que o Nelore de elite vem passando por uma formidável aceleração nos últimos anos, não conseguindo - no entanto - produzir a quantidade necessária de tourinhos para atender a demanda. Por outro lado, o baixo desfrute brasileiro não é provocado apenas pela Genética mas, principalmente, pelo desestímulo

governamental no tocante a um manejo correto das pastagens e da sanidade animal. Bastaria implementar um programa de melhoramento das pastagens e o desfrute nacional passaria dos 17% para algo como 27%. Com o manejo da sanidade, o desfrute chegaria aos 30% - similar a vários países do Primeiro Mundo. Dai para a frente, o melhoramento ficaria por conta da Genética.

O Nelore, portanto, vai muito bem -como raça. E vai ficar ainda melhor quando o governo resolver construir, de fato, a "estrada do Nelore" , ou seja, a rodovia Transoceânica, que irá ligar o Atlântico ao Pacífico. Esta rodovia, já planejada há décadas, tão esperada pelos países vizinhos, semeará capim por milhares de quilo metros e incentivará a criação de, no mínimo, 100 milhões de cabeças voltadas para a exportação de carne, tanto no Brasil como na Bolívia, Colômbia, Paraguai, Peru e Equador. Serão cabeças de Nelore!

Existem 3.100 associados praticando o registro genealógico. Desde 1938 já foram registrados 3.996.534 animais. Do total, 688.271 foram registrados entre 1995 a 1999 (10 semestre). No Nelore, o ano recente de maior número de registros foi 1995, com 154.217animais. No Nelore Mocho, desde o inicio, já foram registrados 377.578 animais. Do total, 180.220 foram registrados entre 1995 a 1999 (10 semestre). No Nelore Mocho, o ano

recente de maior número de registros foi 1997, com 26.654 animais. O progresso da raça Nelore pode ser observado na progressão das vendas de sêmen, a cada ano. É uma progressão firme, em direção a um melhor futuro.



O Nelore como ele é

O perfil é semiconvexo. O sulco profundo no centro da testa, saindo da marrafa e chegando ao início do chanfro recebe o nome de "goteira". As orelhas são curtas, com pontas em forma de lança. Os chifres são curtos, em geral, mas existem sete estilos admitidos: 1 - Estaca curta ou média; 2 - Penteado para trás, para os lados ou para baixo; 3 -chifres longos simétricos; 4- Lirado curto ou longo; 5 - Misorado curto ou longo ou para os lados; 6 - Assimétricos; 7 -"Banana". Em 1999, a raça passou a admitir o animal mocho como integrante da raça-pura. Olhando de lado, a linha reta paralela ao perfil que passa pelos olhos também passará pelo centro da inserção dos chifres. Olhando frontalmente, a linha perpendicular que passa pelos olhos

também passa pela base dos chifres. O "nimbun" está em desaparecimento, devendo a marrafa mostrar-se preferencialmente estreita, reta ou semicôncava. A cauda é mais curta que no Ongole indiano, chegando apenas aos jarretes. Ubere de pequeno formato mas bem colocado com tetas pequenas ou medianas.

Coloração branca, ou cinza claro. O Brasil admite, também, a pelagem vermelha ou a Vermelha e Branca e a Preta e Branca. A pele é escura mas é comum encontrar anirnais com manchas róseas. O passo é curto, típico de raça andeja: ao caminhar, a marca do pé jamais atinge a marca deixada pela mão.

O Nelore Brasileiro para o Mundo

O mundo inteiro tem os olhos voltados para o magnífico rebanho Nelore brasileiro, o Maior do mundo em escala comercial. Este rebanho vai ser responsável pela produção de carne tão desejada pela humanidade. Cada 1% de melhoramento genético na raça Nelore corresponde a milhares de toneladas de carne a mais para o mundo. Esse é um compromisso fantástico para uma única raça.

Os criadores de gado de elite estão fazendo sua parte, elogiosamente, implantando Programas de Melhoramento Genético, e exibindo animais de alto desempenho. Para esses criadores já está claro que "o melhor cruzamento é de Nelore com Nelore" – despontando um grande mercado mundial para a raça.

Como exemplo, basta observar que os elevados impostos cobrados no Brasil tem levado pecuaristas a se instalarem nos países vizinhos como Uruguai, Argentina, Paraguai e Bolívia -todos levando consigo o gado Nelore. Os próprios brasileiros, portanto, estão levando o Nelore para o mundo. Logo esta tendência atingirá outros países como os Estados Unidos e países africanos. Afinal, o Nelore é o gado "bandeirante", esteja onde estiver.

Por outro lado, o Nelore, rapidamente, passará a ser utilizado como reprodutor de vacadas européias, no Hemisfério Norte, tentando injetar alguma rusticidade para facilitar a convivência do gado diante do aquecimento da atmosfera terrestre. Este é um papel que cabe ao Zebu melhorado.

As pessoas modernizam seu paladar e procuram alimentos mais saudáveis. De fato, os hábitos alimentares do mundo tendem á carne com baixo teor de gordura entremeada e, também aqui, é fundamental o papel do Zebu. Nestes casos, o Nelore é a raça que tem servido corno exemplo dessa modalidade de carne e já ocupa a dianteira no processo de melhoramento genético entre as zebuínas. Essa vantagem irá beneficiar as exportações, cada vez mais.



Fonte: Os Cruzamentos na Pecuária Tropical - Ed. Agropecuária Tropical.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Nelore do Brasil


Lux Granutu TE- Lux Agropecuária LTDA

Nelore
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Exemplar de touro da raça Nelore


Nelore é uma raça de gado bovino (Zebu) originária da Índia. Os primeiros exemplares da raça chegaram ao Brasil no final do século XVIII, e rapidamente se tornaram a raça de gado predominante no rebanho brasileiro (85% do rebanho total).

O Nelore é a raça base para o cruzamento de gado de corte no Brasil.
Núcleo da ACNB em Avaré

Os criadores da raça no Brasil se organizaram em duas entidades: a ABCZ (Associação Brasileira de Criadores de Zebu) e a ACNB (Associação de Criadores de Nelore do Brasil).

Com 50 anos de existência, a ACNB - Associação dos Criadores de Nelore do Brasil organiza os criadores e produtores da raça e mantém um programa próprio de marca de carne: o Nelore Natural.
[editar] Funcionalidade

Além de ser a raça para produção de carne In-Natura mais utilizada e abundante no Brasil, a raça nelore vem, principalmente nos últimos 30 anos, sendo utilizada para o aprimoramento genético. Os animais passam por uma avaliação e então são registrados por técnicos especializados recebendo uma marca da ABCZ no rosto, numerados e então recebendo o pronome de P.O (Puro de Origem). Atualmente, no Brasil, a criação para este aprimoramento vem crescendo gradualmente e se tornando uma das alavancas comerciais na agropecuária brasileira, recebendo destaque e notoriedade nacional.[carece de fontes?]